Aquele que compõe um poema, o faz para acalmar os tumultos do coração, e aquele que o descobre, lê ou escuta, reflete a imagem de um outro que existe em si mesmo, embora o desconheça.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Primeiro é o ajeitar-se na cama que fica difícil
De repente você precisa comprar um novo colchão
Aquele buraco nele nunca incomodou tanto
ali havia um braço
Naquele outro uma coxa
As cobertas não são pesadas o bastante
E você se vê insone pela casa
De repente você admite que se tornou chocólatra
E a carência de mais um bocado te agita por dentro
E resolve tomar um café
Que não tem aquela espuma
Que não tem temperatura certa
Que não tem gosto
Galeano nunca te comoveu desse jeito
Nem as flores tinham nomes e simbolismos
Nunca amou tanto aquela pinta no próprio corpo
Nem reparou no próprio pescoço
Os banhos passaram a ser mais demorados
Ao final do dia
Que nunca se arrastou tanto
De repente você abre os olhos
abre os poros
de repente precisa de mais temperos
de repente o sal está na pele
e nenhum sabor é o bastante
de repente, no meio de tudo
você fecha os olhos
e se pega sonhando outra vez
sem precisar da cama
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