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sábado, 1 de novembro de 2008

Zoo

Amigos mais próximos puderam acompanhar minha correria nos últimos dez dias no papel de mãe solteira. Sábado eu cheguei ao limite, acompanhando o Jonas numa excursão de colégio ao zoológico de Sapucaia.


Imagine uma excursão de umas 50 crianças no melhor estilo de “A fantástica fábrica de chocolate”, acompanhadas de suas mães blasès e seu pais... enfim!


Logo de cara um menina salta do nada me perguntando -com toda ingenuidade e tirania que só uma criança consegue ter- se eu pintava meu cabelo. Enquanto o veneno escorria do canto de boca sorridente das tricoteiras, eu respondi: “Sim!!! E, a su-a-mã-e-tam-bém!!!”


O dia ali começou e se estendeu, o sol se estendeu, estendeu o mormaço... Cheguei à maldade de desejar que alguns dos animais ali expostos já tivessem entrado algum dia em extinção, me poupando tanta andança.


Caminhei intermináveis e quase ininterruptas 5h entre jaulas, com pausa apenas pro almoço (pequena pausa, diga-se de passagem). Ao menos eu tava acompanhada do carinha mais legal que conheço, que fazia eu me envergonhar frente ao meu cansaço, visto que ele percorria o triplo, indo até a jaula, voltando pra me anunciar a próxima atração e retornando à mesma pacientemente pra me acompanhar.


Quando finalmente pedi misericórdia à sombra de uma árvore num parquinho, sentei com meus cigarros, arranquei o tênis e fiquei ali, me sentindo tão humana. Foi quando me comovi com três pequenas histórias que aconteceram ao meu redor:

Primeira história:

Três meninas de uns oito anos arrancavam grama enquanto conversavam. Uma delas, empolgada com a função, chegou a sugerir às outras de cobrarem uma pequena taxa do zoológico pelo serviço que acabavam de prestar.

Felizes com a porção de grama que haviam juntado, resolveram jogar tudo o que amontoaram pro alto. Para a surpresa delas, a grama não se dispersou no ar e caiu acertando em cheio apenas uma. Logicamente foi a mais vaidosa delas, a de cabelos longos, volumosos e muito bem escovados, que ficaram cravejados de verde. Ela então deu um grito:

- Meu cabeeeeloooo... Meu cabelo é tudo pra mim! É o que mais amo em mim!
É o que mais amo no mundo! Eu amo mais que... Eu amo mais...mais que ao meu pai!!!

A outra:
- Ai credo, não diz isso que é pecado!

E a terceira:
- Eu queria ter conhecido meu pai...poderiam raspar meus cabelos, se em troca eu pudesse conhecê-lo.

As outras, respeitosamente, seguiram arrancando ervas daninhas...
E ela reiterou, com um sorrisão cheio de orgulho:
- Pelo menos eu sei que ele é jogador de futebol!

Eu, de óculos escuros, chorava por tudo...

Fim.

Segunda história:

Um casal, abraçado. Chegam a um banco com terra encrustrada. Ela olhou desanimada, de cansaço e calor. O cara de chinelo e camiseta do time no ombro, aproveita animado a oportunidade de demonstrar carinho, estendendo a camiseta no banco pra ela sentar. Ela toda derretida elogia e agradece. Ele então fala pra namorada:
-Acho bom que reconheça, você sabe o que essa camiseta representa pra mim!
(...ou: “Nessa vida eu só torço pra você e pro grêmio”)

Fim.

Terceira história:

Um grupo de mulheres, evangélicas, com suas cestas de lanches, seus crochês e etc., sentadas em círculo numa sombra.
Uma delas pediu um celular emprestado e se afastou do grupo. Andava de cabeça baixa, auscultava o aparelho enquanto caminhava de um lado paro o outro, olhos atentos a cada toque que se repetia.
Na roda, como eu, as mulheres a observam. Uma delas suspirando comenta:
- Coitada da ‘fulana’, ela morre de saudades...

Fim.

Eu, atrás dos meus óculos, pensava: “Coitada de mim...”

Fim.

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