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domingo, 3 de outubro de 2010

Das andanças com o Jonas:


Sei que domingo é para ser dia de descanso. O meu ao contrario começou muito cedo indo votar com a cabeça pesada de samba e cerveja da noite anterior. De dever cívico cumprido, peguei o Jonas e fui dar um passeio relaxante como foi aquele ao zoológico. Aceitei um simpático convite de uma amiga para conhecer o sítio da vó dela e almoçar e nos fomos a Três Barras. Um pouco de verde sempre faz bem...

Tudo isso é muito light quando se tem pelo menos um carro pra se por o jogo de raquetes, a pipa, o lanche, roupas, meias e até sapatos extras para um dia fora. E esta é a lista básica, porque criança sempre dá um jeito de pisar, sentar ou virar o que não deve logo no início do dia. Passei o dia monitorando ele que ora estava no alto de uma árvore, noutra estava alimentando um touro, noutra correndo pro açude, noutra cutucando casa de marimbondos. A camiseta desde cedo tava toda babada pelos cães do sítio que há muito não viam crianças por lá e as calças manchadas pelo escorregador também já enferrujado.

Quando enfim o fim da tarde chegou e nos preparávamos pra ir embora, minha amiga foi mostrar a casa ao lado, onde morava sua avó e como o piano chamou atenção, pedimos que ela tocasse para nós.

Aquela senhora fala com dificuldade e se move com mais dificuldade ainda. Pianista por formação, contou que sua peça de formatura continha dezessete páginas e que ela sabia decor, mas que hoje não tocava mais, que há muitos anos não tocava. Pediu os óculos, se posicionou, cutucou algumas teclas pra saber se elas ainda estariam vivas, arrancou os óculos do rosto e começou.

O Jonas pela primeira vez no dia parou. Sentou-se na cadeira de balanço dela de frente para o piano e só tirava os olhos das mãos dela para observar algum porta-retrato sobre o piano. Ela, tendo platéia, ousou fechar os olhos por segundos e as mãos alçavam pequenos vôos sobre as teclas, aspergindo notas no ar...

Eu, enquanto isso, pensava se era a canção que embalava a cadeira ou se era a criança que embalava aquelas mãos...

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