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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Do Realismo:

de 13 de Julho de 2009 a 30 de Agosto de 2009 o Museu de Arte do Rio Grande do Sul historicamente exibe a exposição Arte na França 1860 - 1960: O Realismo

“O foco da exposição está no período em que o realismo se afirma na arte francesa e passa a influenciar o panorama cultural internacional, até o momento em que a arte feita nos EUA ascendeu ao primeiro posto. E traz obras de artistas franceses e estrangeiros que produziram na França ou que por lá passaram, como Dali, Vieira da Silva e Miró. Estão incluídos trabalhos dos diversos movimentos e escolas, abordados sob a perspectiva do Realismo - seus pontos de partida, suas versões e propostas.”(Fonte: www.margs.rs.gov.br)

Entrada: Ingresso solidário, doação de 1kg de alimento - eis o mote de minha crônica:

A realidade:

Uma longa fila se formou em frente ao MARGS. A demora de 35 minutos para entrar me deu a oportunidade de observar a curiosa mistura de público que -creio eu- o ingresso solidário proporcionou.

À minha frente um velhinha segurava com orgulho a sacola com sua contribuição numa das mãos, na outra, sua neta de no máximo 6 anos. A senhora observava os banners da fachada como uma criança que aguarda na fila de um parque.

Atrás de mim, um casal de namorados acompanhados da amiga de um deles. Tentando impressionar, o rapaz bancava o marchand para as duas enquanto me torturava com as mais absurdas e desencontradas combinações de informações a respeito da arte. A respeito dos pintores. A respeito das obras ali expostas. A respeito de tudo!

Depois deles, uma senhora com sua mãe e seus 3 filhos. Desde a vestimenta ao palavreado, tudo era polido. Tomava de seus filhos a lição que dera em casa sobre Realismo antes de ir à exposição. Comentava sobre o brasão da Independência no umbral do museu e indagava provocativa qual dos filhos saberia responder por que haviam ramos de café nele. A mãe dela, certamente matriarca soberana na família, contemplava sua própria criação.

À margem da fila, um menino lê mangá sentado num dos bancos da praça. Minutos depois, à volta dele, corre a menina polida atrás de pássaros pousados e junta-se a ela a neta da humilde senhora à minha frente. O menino move-se apenas quando tem que virar as páginas.

Já dentro do museu, o tempo parou. Não havia tempo, som ou pessoas até o mágico momento em que me dei por conta da realidade: diante de mim, uma obra ainda exalava o calor das mãos sobre o pincel, atravessara os séculos e resistira as intempéries –a obra e eu- para que houvesse este encontro. Numa extraordinária combinação de fatores e de destinos, estávamos ali, a obra e eu. E eu chorei.

À minha volta, espalhados pelas galerias, revia as figuras da fila.

O rapaz com sua cultura de almanaque sobre o Realismo –não que a minha vá além disso- tenta encaixar suas opiniões.

Não acho que ele tenha sido capaz de concluir o que a humilde velhinha concluiu:

Mão no queixo e cotovelo na barriga, a velhinha comenta “cousa mais linda né minha filha? Viu que dali pra cá o traço muda?”.

A família polida observa e vaga silenciosa e separada entre as galerias.

E um menino caminha lento, seguindo de longe o seu pai, enquanto lê mangá...

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